domingo, novembro 20, 2005

breves notas sobre o futebol português (I)

Um angustiante espectáculo sem fim à vista ?

A 18 de Maio de 2005 o futebol era possivelmente o último baluarte que resistia contumaz ao devastador efeito de dominó que trespassava os diversos sectores, empresas, instituições e mesmo individualidades em Portugal. Uma desmedida torre que subsistia numa política de terra queimada, como aquelas catedrais que resistiram à devastação da última Grande Guerra (Colónia, Ulm, Magdeburgo, Mainz/Mogúncia,...) ou a A-Dome de Hiroshima.

À volta desta torre futebolística tudo se destruía inexorável e esta, apesar da carunchosa por dentro, fruto de todo a seita do mau-mau ( não confundir com esta bem menos perigosa) que nela se vinha alojando refugiando-se de outras justiças, ainda ia apresentando por fora um aspecto incrivelmente saudável.

Só que nessa noite um artista (quiçá da editora k7 Pirata) denominado (V)Vagner Love mostrou que dessa torre só restava realmente uma frágil fachada e tratou de começar a fazer dela um queijo suíço, ou neste caso russo (trucidado por uma kalashnikov), pois só restava nesta ala uma depenada ave (bem, um frango) a defendê-la.
(Faço aqui um parêntesis para dizer que a minha maior mágoa nessa noite recaiu sobre o Beto, pois tinha visto numa sua entrevista na RTP, dias antes, toda a esperança que ele depositava em conquistar aquela Taça.)

O desaparecimento (repentino) do jornalista e locutor desportivo Jorge Perestrelo, uma semana antes, porventura já tinha sido um presságio da desgraça que se acercava. Um jornalista que pese embora todas as nossas concordâncias e/ou divergências cursou sempre o meio futebolístico com uma postura animosa, de benquerença e lealdade ; atitudes e valores já muito raros, nessa altura, no meio da rapaqueca. (in)Felizmente Perestrelo acabou por não assistir ao arrasamento massivo da chiNcha.

Nos meses seguintes até à actualidade a torre futebolística foi se desmoronando até só restarem os escombros da actualidade e sobre os quais o trio Odemira: o major Valentão, o sarja MAUdail, e o capelão Bimbinho, ainda tentam embustear o pessoal a não desertar desta guerra do solnado, mas ao que parece ainda restam muitos cândidos que vão nas suas cançonetas de caserna! O grupo de ex-residentes (leia-se Selecção Scolari & Cunhas) que bem espertalhaços se tinham escapado a tempo dali para fora, e se possível para bem longe, é que continuam a representar, com relativo êxito, esse domínio desportivo, agora meio fantasmagórico, e povoado de inúmeras almas-penadas.

Anteontem mais um estandarte sucumbiu. Foi a vez do Sporting Clube de Farense extinguir o seu futebol profissional por problemas financeiros graves. O estado plangente em que se encontra o futebol luso nem me motiva a desbaratar mais tempo que seja a escrevinhar sobre ele. Contudo, só queria acentuar que lamento que um clube como o Farense, com este historial no futebol leve o mesmo rumo que há bem pouco tempo o Salgueiros (clube histórico, com inúmeras presenças na 1ª Divisão) ou outros clubes que também disputaram durante vários anos a 1ª Divisão Nacional como o Alverca, o Campomaiorense, o Felgueiras, o Tirsense, o Leça, o Académico de Viseu, ou o Elvas (alguns já há muitos anos).

O futebol português ao longo da década de 80 e 90 foi angariando em muitas ocasiões elevadas verbas à custa da progressiva profissionalização e notoriedade do futebol na Europa extra-lusa (sim, que a dita profissionalização cá dentro ainda se circunscreve em demasia a uma data de papéis em arquivo-morto.). Só que proxenetámos tanto a galinha dos ovos de oiro que quase já não restam jogadores ou espectáculo para se negociar.

Por essas alturas, parecia que só meia dúzia de aspectos eram na sua globalidade desfavoráveis a certos clubes lusos:

___ o poder crescente da televisão que desfavorecia os clubes que não estavam na 1ª divisão ( menor volume de receitas de publicidade e de assistência nos jogos. Recorde-se que em 2006/2007 a Liga BetandWin apenas terá 16 equipas.)
___a lei Bosman, que permitia em alguns casos a saída de jogadores sem efectivo retorno financeiro
___deploráveis gestões financeiras e desportivas
___ as ocasionais megalomanias de algum Presidente que se lembrava de desbaratar dinheiro( e por vezes com antecipação de receitas a longo prazo) em fantasiosos planos, quase sempre deficientemente equacionados ( ou seja em cima do joelho), no intuito de ganhar algumas eleições ou meramente por seu desvario.
___ ….


Apesar de tudo, estas demarcadas contrariedades eram bastante mitigadas, em face da excessiva condescendência dos governos de então e das instituições regulamentadores e executivas do futebol, o ´empréstimo´ de dinheiros aos clubes por parte da Liga e da FPF, da “generosidade” de muitas Câmaras, instituições e empresários. Deste modo à custa de muito garrafas de oxigénio e muitos quilos de cosmética que esses organismos lhes providenciavam ; os clubes lá foram subsistindo.

(continua no post seguinte)


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