quarta-feira, novembro 09, 2005

a propósito... (II)

A propósito dos comentários do nascimento da infanta* em Espanha , em que eu me envolvi também, só há pouco reparei que o sr Gil Gomes redarguiu ao meu comentário.
Sr. Gil Gomes, por respeito ao sr. ( penso que meu conterrâneo) e à livre difusão das ideias, entendi passar para um espaço com um formato mais conforme (e não uma caixa de comentários) a minha resposta (perco cerca de uma hora de sono mas entendi-o fazer)

Quando referi os "vossos débeis" argumentos" estava a referir-me aos argumentos dos monárquicos e seus simpatizantes em geral e não só aos que o sr. expressou ( "vossos" dirigido a uma só pessoa era um tratamento de há muitos séculos, felizmente).
Os milhares de argumentos que os "não monárquicos" expressam relativamente à primazia de um sistema político obrigariam a escrever milhares de páginas. Mas posso tentar esclarecer (em jeito de flash) alguns aspectos da minha opinião relativamente a certos pontos que o sr. expressa. E claro eu não veiculo ideias de ninguém, apenas as minhas.

(a propósito gostaria de salientar que quando uso alguma ironia faço-o de forma [conscientemente] esparsa e não dirigida em concreto ao senhor)

I- Em relação ao habitual cliché dos países endinheirados, na verdade entre os dez países com maior PIB/per capita do mundo em 2004, a maior parte são estados republicanos e tendência é cada vez mais nessa dominação.

II – Relativamente ao caso do sr. Duarte Pio ser submetido a um sufrágio eleitoral obteria uma votação mínima ( não o poderá negar sr. Gomes) e como tal, quem afinal representaria ele?

III – Considero que a melhor preparação para se ser um fiel e genuíno representante do povo português é, pelo menos, passar pela vida tal como ela é. Não será viver numa redoma de favores toda a vida. Esses (monarcas) acabam por só se representar a ele próprios e a meia dúzia de apaniguados.


Um parêntesis para responder também ao sr. JM (Velho da Montanha). A quantia (que é de pouca monta) a que o sr. alude ( e que eu também já estudei bastante esse aspecto, e considero o inverso: em favor da república) que se poupará (e que iria salvar Portugal certamente [!]) não assume qualquer equiparação com a perda de valores essenciais de uma democracia e de um insigne povo: como a justiça na igualdade de oportunidades ou a assunção de que cargos de soberania podem ser ocupados por pessoas menos capacitadas (nem todos os de sangue azulinho são os ´génios´ que se apregoam por aí) apenas porque herdaram um nome e um título (a história confirma isso), e etc, etc. (não disponho de tempo agora para prosseguir, desculpe.)


Eu considero que a democracia faz-se da expressão do máximo de opiniões e depois a governação será em função das mais predominantes (e não apenas dominantes) em expressão numérica.
A democracia não se faz, ao contrário do que hoje é cada vez mais comum pensar-se, de milhares de pessoas olvidarem as suas próprias opiniões, ideias e ideais e se restringirem a apoiar (muitas vezes por preguiça) dois ou três modelos de ideias ( e sobretudo com carinhas larocas), que uma vez em governação serão forçosamente redutores, em relevante parte, pelo próprio método de selecção a que foram sujeitas. Como tal apraz-me deveras que numa época onde na verdade é (como diz a juventude) careta defender ideias (mais ou menos) símiles aos monárquicos que os senhores os façam (e falo a sério, sem quaisquer ironias). Isso enriquece a própria democracia e contribui para a sua maturação. Esforço-me por respeitar as vossas ideias e espero, em caso disso, ser dos primeiros a defender que continuem a opinar livremente, se por acaso alguém mais iluminado se lembrar que só dois ou três dirigentes possam pensar e decidir o que é melhor para o mundo e para a humanidade.


Serviço Público é servir e não servir-se (ministro, como etimologicamente se afigura, é o que serve quem também já o serviu ou servirá).
Respeito de modo infindo o individualismo, contudo sempre em coerência justa e racional com a vida em sociedade, em humanitarismo. Porém defendo que (praticamente) todos os cidadãos deveriam ser Servidores Públicos entre o mínimo de cinco anos e o máximo de 15 anos, conforme a função que desempenhariam e a sua aptidão. Durante esse tempo deveriam ser o exemplo máximo de cidadania. A(s) função(ões) que desempenharia sobrepor-se-ia à pessoa que a exerceria (contudo não obliterariam a intrínseca personalidade e liberdade de cada indivíduo e até a fruiriam). A selecção para cada função deveria também ser revestida do máximo rigor, para se apurar os mais capazes a desempenhar cada função. Como disse antes, durante o tempo de serviço público (administração, gestão, manutenção, governação, etc.) o cidadão teria a obrigação moral de demandar a excelência, repito excelência, do seu desempenho. Todo o ´minuto´ de trabalho deveria ser de efectiva prestação de serviço público e deveria poder honrar-se disso. Prestado esse serviços público (ente 5 a 15 anos) o cidadão teria depois um lato tempo para no campo privado desenvolver os projectos e funções que bem entendesse. A escolha da fase da vida em que prestaria esse serviço público resultaria da consonância entre o próprio cidadão e o estado (e nos casos superiores a 10 anos poderia ser faseado). Na limitação temporal de prestação de serviço público perder-se-ia em experiência acumulada, e outros aspectos, mas no geral penso que a sociedade beneficiaria pela renovação, pelo motivação acrescida, pelo reforço dos valores e princípios, pela maior transparência dos processos e funções, etc., etc. Não queria passar a ideia que defendo o estado acima de tudo (e até nacionalização das empresa e bens). Pelo contrário defendo também um sector privado (e onde o bons valores do sector público também se estendam a estes) com a força como o que existe actualmente, por exemplo, na Noruega, país que já me debrucei a estudar consideravelmente.

O respeito fraterno, no sentido mais lato, entre os indivíduos, é o cerne primacial sobre o qual se edificam e sustentam as sociedades e os diversos povos, e foi esse respeito que se ausentou de modo singular em Portugal nas últimas décadas e sem o qual, bem podem crer, não existirão milagrosas reformas e medidas que inverterão esta ´era do vazio´ que trespassa o nosso país.
Como subscrevem os bons valores cristãos e budistas (e não só), deveremos também ser plausivelmente responsáveis pelos outros seres (humanos ou não) e na medida do possível também eles por nós.
Neste momento caminham pela Terra cerca de 9% de todos os seres humanos que existiram até hoje. Saibamos honrar com respeito e estima todo o imensurável esforço e os sonhos dos nossos ascendentes, e também dos promissores descendentes.


Sr. Gil Gomes se por acaso tencionar responder a este meu texto terei todo o gosto em o publicar (se assim tencionar) como texto principal neste blogue e não como comentário (devidamente assinado pelo autor: o senhor, é claro). Ao seu critério.

Nota: Quando utilizo o termo "Serrviço Público" aludo ao que actualmente se designa por Funcionalismo Público (administração local e central)

*no post do Vilacondense (neste caso de Dupont) por erro do sistema não se observa a existência de comentários, mas se clicarem eles estão lá.



fernando vilarinho


Comments:
Em primeiro lugar quero agradecer-lhe a sua visita ao meu blogue e respectivos comentários que entendeu deixar.
No que respeita à minha opção Monárquica, seria muito dificil explicar-lhe as minhas razões por esta via, embora as tenha regularmente explicitado no meu blogue.
É evidente que 100 anos de intoxicação propagandística republicana, conotam de imediato a Monarquia com sistemas autoritários absolutistas e com aristocracias previligiadas.
Não se trata nada disso: Em primeiro lugar, há que definir o sistema republicano. Presidencialista? Para que serve então o Primeiro-Ministro?
Semi-Presidencialista? Veja bem a confusão que se gera à volta dos verdadeiros e efectivos poderes presidenciais.
Parlamentar? Então para que serve o Presidenta da Republica?
Com isto apenas lhe quero explicar que a minha opção Monárquica é eminentemente política e não meramente saudosista.
Defendo que o Rei apenas deveria ter funções de representação e a obrigação estrita de ser o rosto do País.
Deveria ser um elemento meramente agregador das várias tendencias nacionais numa base totalmente despolitizada, que só um cargo heriditário permitiria, pois essa balela de "Presidente de todos os Portugueses" quando só metade vota nele, não é sequer aceitável.
A aristocracia, da forma como era entendida, não passa de folclore social e só como tal deve ser entendida. Numa Monarquia moderna, o Rei não deverá atribuir títulos, a não ser meramente honoríficos, tal como a Republica atribui as comendas, e sob proposta do Governo.
Não se vota o hino ou a bandeira de 5 em 5 anos, por isso não vejo que falta de legitimidade poderia ter um cargo com estas características.
Quanto ao Sr. D. Duarte, penso que você tem razão, mas o facto de não termos neste momento um herdeiro que reuna as condições necessárias, não me obriga a renegar ideias bem arreigadas pela convicção. Seria o mesmo que dizer que não se é republicano por não existir nenhum candidato credível à Presidencia da Republica.
Apenas para terminar, acho que não sou menos democrata pelo facto de ser convictamente monárquico e por isso me revolto que a Constituição continue a "obrigar" os Portugueses a "uma forma republicana de governo". Não aceito este aparente mêdo da Republica de se submeter a escrutinio e portanto, enquanto esse artigo se mantiver, jamais votarei numas presidenciais. Se um dia isso mudar, entendo que está reposta a igualdade democrática e então participarei de corpo inteiro a política nacional.
Os meu cumprimentos.
 
Caro Sr. Fernando Vilarinho,
antes de mais gostaria de lhe agradecer a resposta, não só por apresentar os argumentos, mas também pelo tom educado, sempre de salutar nos dias que correm.

Poderá ter razão, que de certa forma terei interpretado os seus comentarios numa vertente mais pessoal do que abstrata.
Terá também razão quando se refere que D. Duarte nunca seria aceite por eleições.
Tem também razão na visão de cidadania.

Contrariando um pouco os seu argumentos, devo dizer que:
- A cidadania nunca deixará de existir apenas pela existência de um regime Monarquico Constitucional.
- Existe actualmente bastante desfasamento entre a cidadania actual e a sua/minha defenição de cidadania um pouco mais utopica, e actualmente temos um regime Republicano. Sendo que também não vejo grandes alterações positivas nesse sentido.
- Reconheço que possa considerar que apenas iria beneficiar uma elite monarquica, mas o sistema actual também nao beneficia uma elite politica cada vez mais afastada dos cidadãos? (Varas, Gomes, Cardonas, Soares, etc.)
- Tendencialmente os 10 paises mais ricos do mundo irão cambiar, e a China (Ditadura) e a India ("Republica" ligada ao sistema de castas), não são Monarquias, mas são bastante similares.
- O texto que li à dias do Prof. Hermano Saraiva (não me lembro onde), deita completamente abaixo a Republica Portuguesa, com base na historia.
Sei, por outra fonte que em 1900 Portugal tinha um indice de desenvolvimento de 84 e a Espanha de 87,vemos onde nos encontramos agora (infelizmente nao me recordo qual o economista que realizou este Estudo, terei de procurar nos meus apontamentos, caso pense ser necessário)
- Quanto ao sufragio de D. Duarte,para sermos corretos, teremos sempre de analisar a questão esqueçendo a premissa coeteris paribus.

Saudações, Gil Gomes

PS- Desculpe-me mas depois de ver que me tinha respondido tentei aceder à sua pagina mas o atalho era errado, só hoje e através de outro blog consegui aceder.
Agradeço a atenção dispendida e o tom cordial da troca de ideias.
 
Postar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Blogarama - The Blogs Blogwise - blog directory
eXTReMe Tracker


View My Stats