terça-feira, novembro 01, 2005

a propósito...

A propósito de um post da Luna, induziu-se-me rabiscar algumas linhas sobre estes dois pressupostos de Portugal: o do sr. Sócrates e o do Sr. Soares. Tentando não cair em minimalismos/maniqueísmos, Sócrates e Soares corporizam duas gerações bem diferentes. A de Sócrates, bem poderá ser denominada a efectiva geração rasca (e não a posterior ao 25 de Abril). A geração de Sócrates, sobretudo da classe média-alta e alta, nascida em meados dos anos 50, cresceu num Portugal em franca expansão económica (para usar um termo agora muito em voga) e (ob)teve deveras facilidades ao longo da sua juventude, vida académica, profissional, etc. É esta a classe que actualmente assume na generalidade os lugares de maior decisão e poder na sociedade, economia e política em Portugal. Muita coisa lhes foi entregue de mão beijada, não experimentando assim as necessárias agruras das múltiplas contrariedades. E não se descartando responsabilidade a demais bem se pode outorgar um dos principais ónus da responsabilidade da actual esterilidade que esta nação atravessa a esta dita geração rasca.
Ao invés a geração (1º lustro dos anos 20) de Soares nascida na pré-debacle económico-social da Grande Depressão, atravessou-a, bem como ao Estado Novo, e sofreu a bem sofrer. Sucedeu-se-lhe a Grande Guerra e porventura começou-se a vislumbrar algum desenredo afirmativo na década de 60. Mas porventura já era tarde demais : muitos dos projectos e os sonhos já tinham sido desfeitos em pó na aridez dos campos durante a guerra ou na (pouco cristã) opressão do corporativismo salazarista. Mesmo assim esta geração que produziu grandes homens como Saramago, Eduardo Lourenço, Fernando Távora, Augusto-França. Cardoso Pires, Carlos Paredes, Cesariny, O´Neil, etc, etc ; e grandes mulheres como Amália, Agustina Bessa-Luís, Natália Correia, Sophia de Mello Breyner, etc., a Portugal, Europa e mundo, mostrou a fibra de que foi sendo consolidada ao longo dos árduos anos : não lhe faltou arrojo (em conformidade com a necessária ponderação) e cônscia aptidão para enfrentar as verdadeiras dificuldades que se lhe depararam ao longo do século e fê-lo na generalidade dos casos de modo muito positivo e deveras digno.
Relativamente à actual candidatura (que não irá passar disso) de Soares à presidência (dos discursos) num misto de vanglória, de dever/cidadania, e mesmo de alguma sobranceria, também o ónus da responsabilidade se estende à dita geração rasca que aludi e suas seguintes, que antes de tudo entre eles não têm/tiveram coragem do mínimo que se lhes exigia : serem candidatos! Câmbio.
Divergi do cerne que era aflorado no post da cruz e do crescente mas acho que nós os lusos, que quase só conhecemos e mal o nosso umbigo, queremos opinar presumidamente, e sob a capa de clichés, sobre problemáticas tão complexas como a globalização (económica /cultural/social/virtual/… ) : isto muito mais dirigido ao sr. Sócrates que ao Sr. Soares.
Pelos menos a presidência do Sr. Cavaco Silva irá colocar um freio nas nebulosas ambições de L. F. Meneses e seus correligionários, mas não querendo usurpar a cartomancia de Sr. Marcelo R. Sousa, lá para a odisseia de 2010 quando Sócrates se demitir ( algo similar ao Sr. Guterres) uns largos meses após a derrocada nas autárquicas de 2009, de novo um economista/gestor (o Sr. António Borges) irá gerir os destinos de Portugal. Pelo menos alguém com formação e experiência na área, que de leigos e teóricos já estamos bem fartos!

Por último faço votos e também para bem da nossa nação para que esta (re)nova(da) leonor espanhola seja muito bela, Loira, e tenha muitos escândalos amorosos e afins para ver se finalmente se finda com esta cada vez mais utópica monarquia espanhola. Mas para além dos interesseiros de sempre, ainda subsistem iluminados que acreditam na dita transmissão do poder divino (na lógica só lhes restará esta presunção. Será que também que ainda não lhes disseram que o papai Noel vive igualmente na terra dos sonhos? ). Deixem sobrevir uma nova marcada crise económica em Espanha e infantes e princesas também irão lavar os tachos e encerar o chão que todos afinal pisámos…
Uma Espanha (e Ibéria) forte afirmar-se sempre e doravante pelas diferenças e não pela soberania/influência de uma figura paternal e supra-estatal. A consciência antropológica dos povos ibéricos tem-nos escarrapachado isso na face. Basta ver, o claramente visto! Mas cá, as trevas persistem.

p.s.: por falar em trevas e afins, até 22 de Janeiro (ou mais provável 12 de Fevereiro) vamos ter mais uma campanha (ultimamente são realizadas, em média, semestralmente) para a eleições presidenciais. Vamos lá ver se concretizarão os ditos debates presidenciais nas televisões entre Cavaco Silva, Mário Soares, Francisco Louça, Jerónimo de Sousa, Manuel Alegre e poventura mais algum candidato. Obviamente isto não passa de fait-divers pois o futuro Presidente da República já está na prática escolhido (a crer nas sondagens).

Comments:
O Sócrates, se calhar, até está a fazer um bom trabalho em determinados aspectos. O problema é que eu tenho uma visão pessimista das coisas e tenho esta vozinha interior que está sempre a dizer-me: "Isto vai piorar, olha para o que eu te digo, isto vai piorar". Deve ser porque eu vejo muitos documentários históricos e acredito que a História se repete. Mas, se Deus quiser, eu estou enganada ...
 
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