domingo, dezembro 04, 2005
Esperada quebra efectiva da produção de filmes portugueses…
Há pouco ia realizar uma compra no website da Atalanta filmes e reparei que o direito de uso do domínio tinha expirado em 27/11/2005. E entretanto já passaram uma série de dias. Verifiquei que isso também se entende à empresa mãe, a Madragoa Filmes.
O grupo Madragoa
O grupo Madragoa inclui a sociedade de distribuição Atalanta Filmes (dirigida por Paulo Branco), com mais de 450 filmes estreados, dos quais mais de 200 editados
Desde o passado mês de Junho que o sub-grupo Cinemas Millenium (Alcochete, Alvaláxia e Coimbra) incorre em processo de insolvência, tendo como tal declarado incapacidade para liquidar a curto prazo as dívidas, que ultrapassam os 22 milhões de euros. O recente encerramento de diversos cinemas do grupo Medeia-Millenium: Millenium Freeport de Alcochete, de quatro salas no Feira Nova de Santarém (há dois meses), do CineTemplários em Tomar (o mês passado), e outros que se seguirão permitirão com venda dos bens respectivos saldar essas dívidas a médio-longo prazo, ficando o grupo a funcionar apenas com as salas mais rentáveis. Resta saber até onde irá o efeito de dominó deste encerramentos, sendo que se tem falado entre outros, no histórico Nuno’Alvares no Porto. Para além da programação normal diária das suas salas a Medeia filme organiza múltiplas actividade paralelas : festivais, sessões de homenagem, retrospectivas, festas do cinema, reposições, debates, sessões temáticas, ciclos de cinema, etc.
Este processo de profunda reestruturação (emagrecimento) do grupo Cinemas Medeia Millenium começou já a acarretar forte mudanças no Grupo Madragoa, sendo que o número de filme a produzir anualmente será um dos visados nessas mudanças.
No Freeport de Alcochete Paulo Branco estreou um projecto de grande envergadura (investimento cerca de 12 milhões de euros) cuja viabilidade acarretava elevado risco. O desfecho final desta película não foi nada feliz e o cinema português irá ressentir-se, também em parte disso, nos próximos anos.
Paulo Branco bem que se poderá queixar da má gestão e promoção que o Freeport de Alcochete tem vindo a evidenciar desde o seus primórdios mas penso que a maior culpa caberá sempre à forte redução da quebra de espectadores na salas portuguesas que se tem verificado nos últimos anos (motivado pela ascensão do DVD, da pirataria no sector, crise geral do país, da recente ausência nas estreias de filmes de grande budget, etc.).
Habituamo-nos a associar constantemente ao nome de Paulo Branco os conceitos de (elevada) qualidade, (singular) produtividade e (pronunciada) evolução/desenvolvimento das áreas onde ele tem privilegiado o investimento e estou crente que são esses os objectivos que continuam a nortear os projectos de Paulo Branco. Esperemos que este revés no seu Grupo não acarrete consequências muito negativas ao cinema português.
Mas se os portugueses continuarem a se deslocar cada vez em menor número às salas portuguesas, restando no cómodo sofé caseiro, quase só poderemos ver filmes com legendas nos cinemas. É que não pode ser sempre o Estado e as televisões a financiar o cinema luso.
E a nossa cultura perde imenso com tal estado das coisas.
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