segunda-feira, dezembro 05, 2005

O intrínseco valor dos sentimentos.


Com o 11 de Setembro (2001) algumas bandas de rock cujos nomes possuíam alguma conexão com o conceito de terrorismo viram-se na contingência de mudar o seu nome, ou então a distribuição dos seus álbuns era alvo de boicote, para já não falar da atitude dos consumidores. Passados três anos, em Dezembro de 2004, a banda 50 Foot Wave (cujo nome alude à menor frequência audível pelo ouvido humano e não a uma onde tsunami como se poderia crer) acabavam de completar em estúdio o seu álbum “Golden Ocean”. Dos três membros da banda apenas Kistin Hersh vive da música, sobretudo com base no seu projecto a solo. Os restantes membros: o haitiano/americano Bernard Georges (ex-Throwing Muses) é vendedor numa loja de bicicletas e corredor de motocross e o baterista Rob (Don) Ahlers tem em paralelo outro projecto musical. Pela limitada disponibilidade de tempo e por não viverem na mesma cidade (Bernie e Rob el L.A. e Kristin em Cleveland) a gravação dos álbuns é muito complicada. Por exemplo a gravação do segundo registo “Golden Ocean”, à falta de tempo e de dinheiro, foi efectuada em apenas três sessões de alguns dias cada. E o resultado final foi muito bom, mesmo surpreendente.

O infortúnio da banda foi a ocorrência do tsunami natalício nessa precisa data. Desde o nome da banda, ao nome do álbum, às ilustrações do CD, a algumas letras, era passível de se fazer ligações a esse catástrofe natural. Paralelismo que os 50 Foot Wave jamais tiveram a mínima intenção. Por essa data, esta infeliz associação foi reportada no website do The New York Times, na CNN.com, na MSNBC ou na Billboard.com, entre muitas outras. Foi assim agregado uma forte carga negativa ao álbum que acabou por influenciar em larga medida a sua difusão, desde uma contenção por parte dos críticos, dos distribuidores até aos consumidores. E claro influenciou em larga medida o volume de vendas.

Se até aí Kristin Hersh pugnava por ser uma pessoa profundamente anti-materialista, este acontecimento, a par de Hersh considerar que a influência que o dinheiro vem assumindo no domínio da música atingiu um grau desmesurado, desfigurando a música por completo, ainda lhe vincou mais essa atitude e induziu-a a tomar uma arriscada decisão, em conjunto com os outros membros. A partir daquele momento os 50 Foot Wave apenas viveriam das actuações em concerto e não dos discos.

Deste modo, se já uma boa parte da obra dos 50 Foot Wave e de Kristin Hersh a solo estava disponível gratuitamente na net, Hersh decidiu disponibilizá-la integralmente (embora colocando gradualmente cada grupo de canções para download) no seu website oficial “Throwing Muses” na secção Free Music.

Aliás o novo Ep, que irá ser lançado brevemente, intitula-se simbolicamente “Free Music” e irá ser integralmente disponibilizado de modo gratuito na net. Paralelamente todos os álbuns também podem ser adquiridos nas lojas de discos, produzidos pela mítica editora inglesa 4AD (aliás as Throwing Muses [TM] foram a primeira banda não britânica a ser editada pela 4AD).

Relativamente ao incontornável blogue de Kristin Hersh queria falar sobre os dois últimos posts.

Neste texto Kristin expressa-se com uma intensidade e um grau de intimidade que nos deixa a todos encolhidos e sem coragem para proferir uma só palavra. No texto Kristin aborda as dificuldade que ainda continua a sentir em tocar as músicas das TM. Paralelamente ao gozo que retira da sua reprodução, elas trazem-lhe à memória ‘espectros fantasmagóricos’ bem vivos do seu passado. Como ela diz: “que ainda são relevantes”. Mas deixo à vossa própria intimidade a leitura e entendimento das suas palavras (o segundo parágrafo revela-se bastante forte).

“These old songs [TM] are difficult, prickly and angry and I can handle that. The problem, I believe, is one of relevance, and not in the way you might think: it's that they are STILL relevant. If I could leave these feelings and stories behind me, I could fly through the material like a cover band: wheeeeeeeeeee! But those same goddamn feelings are ongoing and so is that same goddamned story. I'm ashamed of this, to be honest. I had big plans that did not include being the same person who wrote those songs 20 years after the fact.

Solo acoustic and 50FootWave songs move me just as hard, tear me the hell apart, in fact, but in a GOOD way. And I don't have to remember anything but the music when I play them. To be in the middle of an old Throwing Muses song is to be living in my car again, pregnant, diagnosed schizophrenic and subsequently drugged, cutting myself, sleeping on floors, hiding from stalkers I wasn't famous enough to deserve, getting felt up at the bar, fighting for the $50 in gas money the band earned per show (club people regularly pulled guns on me), each new song a Sheherazade story keeping me alive only to hear how it ends.”

No texto mais recente do blogue, Kristin informa-nos que há dias, enquanto prossegue a sua Tour pelo mundo, a sua casa em Cleveland sofreu marcados estragos, mas que, entre tanto infortúnio, os seus vizinhos foram impecáveis e amenizaram as perdas. Para uma família que não vive nada desafogada e tem 4 filhos para criar, estas adversidades pesam sempre demais. Só posso fazer votos para no futuro este tipo de problemas não suceda mais a Kristin e à sua família.

Fontes das fotos:
L. Fletcher (topo)
Kenny Watson (Bernard Georges)
www.strangeheaven.com (restantes)


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