"Shohei Imamura foi um dos mais importantes realizadores japoneses revelados depois dos anos 60, a par do clássico Kurosawa e do moderno Nagisa Oshima, destacando-se pela forma como a sua obra procurava reagir contra o domínio da visão clássica de um Ozu ou de um Mizoguchi, com o seu exacerbado realismo e o mergulho no inconsciente colectivo, com os seus tabus e interditos sexuais, principalmente os que têm a ver com o incesto e a superstição.

Um dos filmes fundamentais deste seu olhar é “Kamigami no Fukaki Yokubo” (O Profundo Desejo dos Deuses), que encerra a breve homenagem que a Cinemateca Portuguesa presta ao autor de “Nippon Konchuki” ( A Mulher Insecto). Ao lado de Oshima, Imamura foi também o cineasta japonês saído da “nova vaga” deste país, mais divulgado além fronteiras, e também o mais premiado: ganhou duas Palmas de Ouro em Cannes com Narayama Bushi-Ko, que veremos no Ciclo, e com Unagi (A Enguia), ganhou outros prémios em Cannes com “Kuroi Ame” (Chuva Negra) e ganhou um Urso de Prata em Berlim com “Nippon Konchuki”. A homenagem é rematada com o documentário que Paulo Rocha fez sobre Imamura para o programa de televisão “Cinéastes de Notre Temps”.

Ciclo "In Memoriam Shohei Imamura":

“A Balada de Narayama” (Narayama Bushi-Ko) de Shohei Imamura
com Ken Ogata, Sumiko Sakamoto, Rompei Hidari, Takeio Aki
Japão, 1983 - 129 min / legendado em português
Uma lenda japonesa várias vezes adaptada ao cinema. A versão de IMAMURA procede a uma estranha actualização, projectando, de súbito, no presente esta história de antigos costumes tribais que impunham o abandono dos velhos numa longínqua montanha, para morrerem. Palma de Ouro no Festival de Cannes.
Sala Dr. Félix Ribeiro Ter. [dia 25] 19:00

“Porque Não?” (Einaka) de Shohei Imamura
com Kaori Momoi, Shigeru Izumiya, Ken Ogata, Shingeru Tsuyuguchi
Japão, 1981 - 151 min / legendado em francês
EIJANAKA representa a primeira incursão de IMAMURA no passado histórico do Japão. Mas se o pano de fundo é outro, o período da restauração Meiji, os temas são os mesmos que IMAMURA desenvolve nos filmes “actuais”: o sexo como mercadoria, o submundo do banditismo e dos tráficos de influência e a subversão dos costumes por acção de agentes do exterior, neste caso os americanos.
Sala Dr. Félix Ribeiro Qui. [dia 27] 19:00

“O Profundo Desejo dos Deuses” (Kamigami no Fukaki Yokubo) de Shohei Imamura
com Rentaro Mikuni, Choichiro Kawarazaki, Hideko Okiyama, Kanjuro Atashi, Yasuko Matsui
Japão, 1968 - 172 min / legendado em francês
Um dos filmes mais característicos de IMAMURA, que explora e analisa a “animalidade” do ser humano, no que quase se pode ver como um “documentário” (ou antes, uma ficção documental) sobre uma comunidade primitiva japonesa, as suas crenças, mitos e superstições, os tabus e o castigo da sua quebra “imposto pelos deuses”.
Sala Dr. Félix Ribeiro Sex. [dia 28] 19:00

“Shohei Imamura, Le Libré Penseur” de Paulo Rocha
França, 1995 - 60 min / legendado em português
Estudo sobre a vida e a obra de Shohei Imamura, realizado por Paulo Rocha para a série “Cinéastes de Notre Temps”, da cadeia “Arte” da televisão francesa. Neste trabalho cruzam-se as vozes e as imagens da vida e obra de IMAMURA, numa busca, segundo Paulo Rocha, de “dinamitar o documento, fazer triunfar a verdade da ficção”.
Sala Luís de Pina Seg. [dia 31] 22:00

Também será projectado dia 29 de Julho, pelas 19.00h., na Sala Dr. Félix Ribeiro, a película “O Trono de Sangue / O Castelo da Aranha” (Komonosu-Jo) de Akira Kurosawa, de 1957. Uma magnificiente adaptação da obra "Macbeth" de W. Shakespeare, com Toshiro Mifune e Isuzu Yamada.

# mensagem colocada por fernando_vilarinho : 7/03/2006