China e Japão perceberam que chegou a hora de definitivamente inverteram o longuíssimo período de tensão entre as duas nações e que tem passado ultimamente por fases deveras críticas. Se Junichiro Koizumi, que agora termina seu mandato, foi o 1º Ministro que relançou o Japão de novo para uma posição cimeira mundial, arrancando-o de modo pertinaz de uma crise, sobretudo económica, que teimava em subsistir ; também foi, sobretudo com as suas famigeradas visitas anuais ao Santuário de Yasukuni, um indutor do esfriamento, por vezes mesmo congelamento, de relações com as nações vizinhas, sobretudo a China e Coreia do Sul. Um delicado status quo entre os países da região que estados como a Coreia do Norte têm tentado capitalizar a seu favor.

A mudança de primeiro-ministro afigura-se certamente um timing especial para marcar um novo rumo nessas relações. No discurso de abertura do Fórum (este ano realizado em Tóquio) o Embaixador da China, Wang Yi, pautou o seu discurso por um firme propósito de abertura e efectivo aprofundamento das relações sino-nipónicas. Um discurso que certamente surpreendeu um pouco a generalidade dos presentes. O actual Ministro de Estado, Shinzo Abe (que se perfila como o principal candidato a sucessor do Koizumi, como 1ª Ministro, já no próximo mês) foi mais comedido no seu discurso (até para não “hostilizar” a linha mais conservadora do seu partido, que também o apoia) mas na generalidade dos pontos alinhou pelo mesmo diapasão do precedente orador.

A opinião pública, por parte dos japoneses, sobre a China e vice-versa tem-se deteriorado nos últimos anos para níveis que Shinzo Abe considerou chocantes e que urge mudar radicalmente, antes que se arreiguem irreversivelmente nas sociedades dos dois países. Contudo, e ditosamente, estes alarmantes níveis que os índicadores evidenciam não têm sido extensíveis aos estratos etários mais baixos dos dois países que certamente têm muito mais em comum, pelo seu tipo de vida mais urbano e ocidentalizado, que os seus pais.

Nos últimos anos tem-se observado um relativo balanceamento do Japão para a raia da esfera ocidental americanizada, abraçando, ao invés, cada vez mais a prosperante esfera asiática. Este Fórum pode ser o início da emergência de um novo/renovado bloco asiático que orquestrará doravante o mosaico planetário.

Muito interessante este artigo de três páginas, do China Daily, sobre o Forúm deste ano, cujo tema é “Facing Asia's Future – Building New China-Japan Relations".

Entretanto surge esta notícia...

Intrincada situação em que a maioria da opinião pública japonesa desaprova a visita de seus líderes a Yasukuni e a grande maioria dos "barões" do partido (de sempre) do poder, o LDP, incentivam essa visita. S. Abe, tem a difícil tarefa de substituir o carismático Koizumi, e depende do apoio desses barões. Depois de eleito veremos se o seu marcado pragmatismo não o leva a dispôr de menos tempo para certas visitas…
Em 2001 quando Koizumi foi eleito também ele fora precedido pelo carismático JFK japonês, Keizo Obuchi (acometido em funções por um ataque cardíaco, faleceu semanas depois), mas conseguiu de presto centrar nele as atenções e sai agora pela porta grande.

# mensagem colocada por fernando_vilarinho : 8/03/2006