terça-feira, setembro 12, 2006

Uma ampla vaga de livros nipónicos editados no Brasil nos próximos anos (III)

“Escrita que vem lá do Japão”
por Paulo Cunha
Revista “EntreLivros”, nº 17 - Setembro de 2006

"Para a tradutora Meiko Simon, “a maior dificuldade é a enorme distância que existe entre as duas línguas e culturas. Isso exige um trabalho intenso na transposição cultural ou recriação textual para poder adaptar à língua portuguesa”. Leiko Gotoda identifica as dificuldades de cada autor: “Eiji Yoshikawa é um escritor poético, emotivo, capaz de agarrar o leitor e prendê-lo com firmeza. Haruki Murakami tem uma linguagem moderna, sui generis. Seu texto transcorre numa sucessão de frases curtas, como num fraseado de jazz, ritmo musical que o autor aprecia muito. Seus personagens, assim como seus temas, são modernos e globalizados, mas o autor nunca perde de vista o cerne, a verve poética da alma japonesa. Jun’ichiro Tanizaki é o escritor da linguagem e do tema clássicos, tradicionais. Seu texto é claro, desprovido de ambigüidades, mas exatamente pelo fato de ser genuinamente japonês se torna difícil traduzi-lo. Ele adora falar das manifestações culturais japonesas mais tradicionais (religiosas, teatrais, festivas, musicais, artesanais, gastronômicas, arquitetônicas etc.), que levam o tradutor a gemer no momento de transpor seus detalhes para outra língua”.

O vigor da literatura japonesa contemporânea inspira-se em uma rica variedade de fontes, desde as influências clássicas da China antiga, passando pela diversidade do pensamento ocidental, até os valores duradouros de suas próprias tradições. Musashi, o calhamaço de Eiji Yoshikawa (1892-1962) lançado no Brasil pela Estação Liberdade em dois volumes em 1999, é o responsável por todo esse interesse pelos escritores japoneses. Com tiragem inicial de 4 mil exemplares, o livro surpreendeu a própria editora e ultrapassou os 60 mil volumes vendidos. “A demanda visível pela literatura japonesa verificou-se a partir do lançamento de Musashi, um best-seller apesar de seus dois volumes de quase 2 mil páginas”, diz Jo Takahashi, da Fundação Japão, uma organização vinculada ao Ministério das Relações Exteriores do Japão.

Depois dessa publicação, cresceu sensivelmente o interesse das grandes editoras por obras de escritores japoneses, principalmente os contemporâneos. “Há um componente essencial no interesse por Musashi, que são as artes marciais e a filosofia zen, e não necessariamente o valor literário das obras, mas é inegável que ele foi uma porta de entrada para o universo japonês”, completa. A literatura contemporânea japonesa é muito apreciada na Europa e nos Estados Unidos. “No Brasil, temos um atraso no mercado editorial, que precisa ser corrigido, pois há aqui o culto aos best-sellers. A carência de bons tradutores do japonês para o português é outro problema que ainda não está resolvido”, adverte Jo.


A Curiosa Génese da Literatura Nipónica.

As obras literárias mais antigas do Japão exercem influência até hoje. Uma delas é o Kojiki (Registro de casos antigos), texto em prosa que se acredita ser do ano 712. Outra é o Manyoshu, uma antologia em 20 volumes de poemas compilada por volta de 770. Contém cerca de 4.500 poemas de homens e mulheres de todas as profissões e idades, muitos anônimos. Os poemas são conhecidos por sua franqueza e simplicidade.

No período seguinte, de desenvolvimento da literatura vernácula destaca-se Taketori monogatari [A história do cortador de bambu], escrito por volta de 811, considerado o primeiro romance japonês. Foi seguido por outras relevantes obras, como o Genji monogatari [A história de Genji], escrita por Murasaki Shikibu, por volta de 1010, romance em 54 volumes que descreve o amor e o sofrimento de nobres e suas damas, bem como a aristocracia japonesa nos séculos X e XI. O famoso haiku, poema de três versos e cinco, sete e cinco sílabas, só viria a surgir no século XVII"

Fim.


Comments:
Os meus cumprimentos e parabéns.
 
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