terça-feira, setembro 12, 2006

Uma ampla vaga de livros nipónicos editados no Brasil nos próximos anos (II)

“Escrita que vem lá do Japão”
por Paulo Cunha
Revista “EntreLivros”, nº 17 - Setembro de 2006

"Também lançado inicialmente em periódicos japoneses, entre 1982 e 1983, "Jovens de um novo tempo, despertai!", de Kenzaburo Oe, é uma coletânea de sete histórias de ficção curtas. O autor se inspirou em versos do poeta inglês William Blake para descrever o cotidiano de um escritor de meia-idade com seu filho excepcional. Os versos servem de contraponto à trama e ecoam ao longo de todo o livro. Kenzaburo Oe, nascido em 1935, é um dos romancistas mais populares do Japão. Sua obra compreende inúmeros contos, escritos políticos e um famoso ensaio sobre Hiroshima. Em 1967, recebeu o prêmio Tanizaki e, em 1994, o Prêmio Nobel de Literatura.

A tradução desse livro, formado por períodos longos e frases interferentes, tomou um ano de trabalho de Leiko Godota. “Oe diz que tentou, em suas obras de início de carreira, desconstruir a língua e recriá-la. No meu entender, isso é uma manifestação vigorosa da sua imaginação, que extrapolou, por assim dizer, o âmbito do tema. Essa rebeldia, bem atenuada agora, ainda é aparente em suas obras atuais e um elemento complicador para a tradução”, avalia a tradutora.

Hagoromo de Zeami: o charme sutil é uma “transcriação” de Haroldo de Campos (1929-2003) para um clássico do teatro japonês, que ganha agora nova edição, bilíngüe (japonês-português), pela Estação Liberdade. Foi traduzida e minuciosamente trabalhada pelo poeta, morto há três anos. O livro traz a versão integral da peça Hagoromo [O manto de plumas], do dramaturgo Motokiyo Zeami (1363-1443), principal nome do teatro nô e considerado o maior artista do período Muromachi (1333-1573).

Numa época em que o Japão era assolado por calamidades naturais e infindáveis guerras civis, o talento de Zeami, de apenas 12 anos, chamou a atenção do jovem xogum Yoshimitsu Ashikaga, cinco anos mais velho. Interessado pelas artes, Yoshimitsu patrocinou a obra de Zeami durante 34 anos. Isso permitiu o desenvolvimento de um novo gênero cênico, o teatro de máscaras nô. Como dramaturgo, ele escreveu mais de cem peças. A edição é caprichadíssima. Vem acompanhada do texto original, com os ideogramas (kanji), transcrição fonética e os significados literais de cada verso.

O interesse de Haroldo de Campos pela peça vem dos anos 1950, quando iniciou seus estudos da língua japonesa. Em 1960, o poeta escreveu um ensaio sobre a obra, que foi publicado só em 1976, no livro A operação do texto. A primeira edição do Hagoromo, de 1993, ganhou o Prêmio Jabuti de tradução.

É significativo o fato de esses lançamentos serem traduções diretas do japonês. “Traduzir diretamente do texto-fonte é o ideal, pois as perdas que estão implícitas em qualquer trabalho de tradução podem ser minimizadas, e as marcas da cultura que o trabalho literário apresenta podem ficar preservadas”, afirma Neide Nagae, que já traduziu obras de Kawabata, Murakami e Jun’ichiro Tanizaki, entre outros. Leiko Godota, tradutora de diversos autores japoneses, concorda. “Por mais que o tradutor se empenhe, uma tradução é apenas uma cópia pálida do original e, portanto, cópias dessas cópias tendem a ser cada vez mais esmaecidas”, diz. "

(continua no post abaixo)


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