quinta-feira, abril 26, 2007

A projecção do cinema Japonês em Portugal - contemporaneidades.

A maior manifestação do Japão em Portugal regista-se desde há muitas décadas através dos automóveis, dos motores, máquinas e uma parafernália de aparelhos e electrónicos e eléctricos que importamos.

De seguida vem o cinema japonês. O Japão possui uma tradição e uma indústria cinematográfica de incomensurável dimensão. Mas ao longo da sua existência sofreu dois duros revezes.

Em 1923 o famigerado terramoto Kanto que atingiu a região de Tóquio (vitimando mais de 140 mil pessoas e desalojando dois milhões) destruiu praticamente toda a produção cinematográfica anterior a esta data, sobretudo quando o depósito da companhia-mor, a Nikkatsu, foi reduzido a escombros. Esta e outras companhias como a Shochiku ou a Toho, viriam a ser de novo severamente fustigadas na Segunda Guerra Mundial onde praticamente toda a indústria de cinema foi dizimada. Estima-se que cerca de 97% das dezenas de milhares de filmes produzidos no Japão até à capitulação de Hirohito foram destruídos ou desapareceram, o que significa a perda de um legado imensurável, inclusive de milhares de obras–primas do cinema nipónico. Isto aliado ao facto das fracas condições, em muito casos, de armazenamento dos filmes num clima extremamente húmido como o Japão, conduziram a que escasso número de películas sobrevivessem mesmo nos anos subsequentes à guerra (a maior parte das que hoje ainda subsistem dessa época devem-no a se encontrarem fora do país).

Ora a manifestação de cinema nipónico em terras lusas fez-se sempre sobretudo através de festivais e da Cinemateca (de Lisboa).

O Nippon Koma - Festival de Cinema Japonês é uma desses festivais que se realiza todos os anos na Culturgest, no final do Outono, e que se estende por uma semana. O destaque é dirigido ao cinema de animação (anime) e documentário. No ano transacto realizou-se a 4ª edição, no qual assisti pela primeira vez e apenas a um filme: o documentário “30 Anos de Irmandade” de Chieko Yamagami e Noriko Seyama, rodado em 2004, e que reporta o movimento de emancipação feminina no Japão desde 1970. Não era propriamente o filme que mais me interessava visionar do festival, mas por força maior sucedeu ser este. Foi projectado numa quarta-feira à noite e ainda sobejava um razoável número de lugares na sala. Segundo as estatísticas, a média das sessões ronda a centena de espectadores, sobretudo pessoas mais jovens. Realizam-se duas sessões diárias (às 18h30 e 21h30), a um preço único de 2 euros por sessão. Um folheto de cerca de 20 páginas que é distribuído gratuitamente apresenta a programação com pequeno resumos sobre os filmes.
Esta 4ª edição, que decorreu entre 4 e 9 de Dezembro contou 70 filmes, e os realizadores em destaque (para além dos antes citados) foram Kon Satoshi, Tanaami Keiichi, Aihara Nobuhiro, Nakajima, Ogawa Shinsuke, Oshige Junichiro entre outros.
A programação do último festival ainda está online

Outro festival que presta atenção ao cinema japonês é “Lisbon Village Festival” (LVF), que em Junho próximo, entre 18 e 24, terá a sua segunda edição. Este festival congrega três vertentes: cinema, artes plásticas (exposições) e música (concertos e performances), No que concerne ao cinema o LVF é o primeiro europeu exclusivamente dedicado ao cinema de suporte digital. Realiza-se no cinema S. Jorge e noutras salas definidas cada ano.
Tem como festival parceiro o prestigiado Skip City Internacional D-Cinema Festival no Japão, incluindo, todos os anos, na sua programação uma mostra das melhores obras que passaram por esse festival.
O LVF é organizado pela Hikari Global e promovido pela Câmara Municipal de Lisboa, EGEAC e BDC – Bartholomeu Digital Cinema.

O DocLisboa também presta regularmente especial atenção ao cinema japonês. Na sua edição de 2006 (de 20 a 29 de Outubro), apresentou uma secção denominada “Histórias Mínimas: o Documentário Japonês Contemporâneo” , que traçou um panorama histórico do documentário japonês de 1987 até ao presente. Makoto Sato e Naomi Kawase, dois dos realizadores representados nesta selecção, estiveram presentes para apresentar os seus filmes e discutir a situação do documentário no Japão. Foram projectados filmes igualmente de Shinsuke Ogawa, Kazuo Hara, Mori Tatsuya, Hirokazu Koreeda e Kato Haruyo. Este ano o festival decorre entre 18 e 28 de Outubro, como sempre, na Culturgest.

Outro festival de cinema que presta regularmente atenção á cinematografia nipónica é o já consagrado Festival IndieLisboa” (Festival Internacional de Cinema Independente de Lisboa) cuja 4º edição decorre no presente momento (entre 19 e 29 de Abril) em quatro salas de cinema. O Cinema São Jorge junta-se este ano aos tradicionais King, Londres e Fórum Lisboa. Nesta 4ª edição é prestada uma homenagem especial ao realizador japonês Shinji Aoyama com a exibição de 14 filmes seus. O universo deste artista vagueia entre a alienação, morte e o renascimento da alma humana, como se presencia em obras como “Helpless” (1995), “Chinpira: Two Punks, Edge of Chãos” (1996) e “Wild Life” (1997) que constam do programa. O ano passado foi homenageado Nobuhiro Suwa , com projecções de “2 Duo” (1997), “Un Couple Parfait”(2005) e onde evoca Michalangelo Antonioni, “H Story” (2001), “A Letter from Hiroshima” (2002) e “M/Other” (1999).
Ver entrevista de João Antunes a Shinji Aoyama, no âmbito da sua presença neste festival.



Uma sala privilegiada para assistir a excelentes obras do cinema nipónico é a Cinemateca que todos os meses nos brinda com cinematografia deste país, com especial relevos para os nomes consagrados: Mizouguchi, Ozu ou Kurosawa.

Estes mês foram projectados, como habitualmente grandes películas:

Kenji Mizoguchi
Dia 2 - "Os Amantes Crucificados" (Chikamatsu Monogatari) [1954]
Dia 14 - "Mulheres da Noite" (Yoru No Onna-Tachi) [1947]

Mikio Naruse
Dia 14 - "Nuvens Flutuantes" (Ugikimo) [1955]

Yasujiro Ozu
Dia 21 - "Viagem a Tóquio" (Tokyo Monogatari - Tokyo Story) [1953]
No banner deste blogue está representado uma imagem deste filme, um dos meus favoritos.


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