segunda-feira, janeiro 02, 2006

Para um PROMISSOR ano (ou será século?)…

As ideias que exprimo neste post creio serão certamente catalogados por razoável parte dos que as irão ler (ou passar os olhos) de profundamente hereges, até porque pertenço ao grupo dos que até agora consegui escapar ao serviço (agora) quase obrigatório de se ser um “néscio optimista” face ao destino da lusitânia nos próximos anos.
Essas mentes superiores descobriram que afinal a solução para a prolongada crise lusa era e só apenas a máxima expressão de pensamentos positivos por parte da nação lusa! Extraordinários cientistas, sim senhor! Para eles, então, esse astral/energia positiva imanada por milhões de cândidos lusos revela-se o suficiente para a alteração do péssimo status que a nação persiste em atravessar. Até fico admirado como ainda não solicitaram os préstimos do Professor Mambo!
Eu, pelo contrário, casmurro como sou, continuo a acreditar que a saída, na prática, só será possível, através de árduo e eficiente trabalho. Mas esta solução faz calos nos dedos a este pessoal que só utiliza as mãos para os telemóveis e telecomandos e muito pouco mais.

Por outro lado também não devo ser muito bem visto por estes iluminados porque igualmente ainda não aderi à nova Mania lusa. Não, não se trata dos pais-natais alpinistas. Trata-se é da GuinessMania (ou da IgnóbilMania, como queiram!) .(Já agora, será que o blogueiro que coloca mais “porventura”, “deveras” e “afigura-se” por post não contará? Ou uma desmedida percentagem de fotos não artísticas nem a P&B que aqui são afixadas? Porventura, quiçá… Prometo inteirar-me).

Mas para não me acusarem desde logo de muitos divagações subjectivas avanço para um mais-que-objectivo estudo que miraculosamente (e como alguns gostam) parece agradar a gregos e troianos (neste caso, mais a lusos e espanhóis) Esse interessante estudo, que foi realizado em conjunto pelos institutos de estatística de Portugal (INE.pt) e de Espanha (INE.es), e que se intitula "A Península Ibérica em números 2005 " compara a situação dos dois países em múltiplos indicadores que cobrem as mais diversas áreas: demografia, educação, cultura, saúde, actividades económicas, tecnologia, transportes, etc.

No entanto como os dados em muitos dos casos são expressos em forma de percentagem relativas a cada país, camuflam um pouco as efectivas clivagens, que se vão acentuando gradualmente entre os dois países. Só por isto, e pelo facto de o estudo incidir sobretudo nos aspectos demográficos, se entende que o INE luso tenha aceite este estudo em conjunto.

Mesmo assim, em muitos dos casos (muitos já bem conhecidos dos portugueses), as assimetrias são notórias: rendimento per capita, o abandono escolar, as despesas com saúde, os índices de produtividade das empresas, das redes de transportes, as infra-estruturas de turismo, etc. No geral, como se sabe a Espanha está bem acima de nós. Mas um dos actuais grandes motivos do orgulho luso é ainda estarmos à frente na % de telemóveis!

Será engraçado realizar novo estudo deste âmbito em 2010 para verificarmos que se agora o panorama não nos é nada favorável, então daqui a cinco anos as diferenças serão já quase de um país desenvolvido para um terceiro-mundista e isto em nações com as mesmas raízes e que partilham a mesma Península há muitos e muitos séculos…. (alguns dirão: "cinco anos, só?" Sim, a este rtimo de decadência bastarão uns 5 anitos.)
Mas os politiqueiros lusos continuam apenas preocupados com os seus rendimentos e tachos e seus shares nas sondagens...

Ao longo da história dos lusos, nos momentos de crise, sempre surgiu, e quase involuntariamente uma milagrosa solução para os problemas (especiarias, escravos, açúcar, o ouro, algodão, fundos da UE, …) e que grande parte das vezes os lusos nem sequer imaginavam.

Deste modo, na actualidade, a maioria dos lusos (ainda) acredita que uma nossa Senhora de Fátima (ou de Felgueiras) mais uma vez não os irá abandonar e restam esperando, sentados (quase sem mexerem uma palha), por esse novo miraculoso acontecimento.

Os espanhóis também pensavam de modo análogo até terem passado fortes privações durante três décadas seguidas (anos 30, 40 e 50) numa desgraça que afectou e marcou várias gerações e de modo bem profundo. Os espanhóis deixaram então de esperar sentados e em pouco tempo as diferenças entre os dois países acentuaram-se deveras…

Será que irá ser preciso esperar três décadas para os portugueses também acordarem? Infelizmente depreende-se que sim, mas pior que isso é que se começa a entrever que a situação não se ‘resumirá’ a apenas três décadas. Esse, é que ainda se afigura o maior dos problemas! Poderá ser quase irreversível. Mas nessa altura, aí para o meados deste século, pelo menos poderemos contar com ajuda dos países mais abastados (como a China, a Formosa, a Rússia, os países do leste europeu, alguns países do Médio Oriente, os EUA,…) para ajudarem o novo país terceiro-mundista.

Assim sendo, este ano ainda vamos continuar à espera sentados nos estádios de futebol ou nos sofás em frente ao televisor dos mundiais e dos europeus, e com a bandeira lusa (made in China) bem desfraldada ( a aproveitar enquanto nos deixam mostrá-la) para ver se afinal damos mais pontapés numa bola que outros países. Sempre ajuda a passar, com alguma ilusão à mistura, mais um desditoso ano que se avizinha para o nosso rectângulo verde sombrio.
E quem pensar o contrário, no final de 2006 parece que vai ter um grande galo e não um peru, afinal!


Outro posts afins que escrevi recentemente : 3/11 e 17/11 , sem referir outros com similares ideias de permeio.

Comments:
bom dia Fernando.... em todos os minutos em todos os post. magnificos.

louvo aqui a inteligência. e desejo tudo de MUITO BOM.

abraço.
 
não tenho um olhar tão pessimista como o que expressas, mas numa coisa concordo contigo...a crise só passará quando os portugueses meterem mãos ao trabalho!!! e parece que há muita gente que se esqueceu disso. mas vamos lá olhar para as coisas com positividade, o contrário não serve de nada...

abraço
 
Nossa, quanto cinza, Fernando. :)
Também não consigo ter uma visão assim tão pessimista, a minha é observar com olhos beeeem abertos cada acontecimento de uma vez com alguma racionalidade e desejando sempre de que boas coisas aconteçam.
Agora...sinceramente? Optimismo cego, só com muitas doses de Prozac, ehehe; isso lembra-me um filme com a Maria de Medeiros e a Ana Bustorf.
Concordo em muito contigo, menos "Guiness", menos - tudo e sempre - futebol. Mais para toodas as competições desportivas - no caso - é mais saudável e menos "fundamentalista".
E pensar, é preciso gastar tempo pensando...pensarmos sobre tudo o que acontece, só assim para percebermos a necessidade de por "mãos à obra", desse jeito podemos dar início à alguma "transformação". :)
1ª semana de 2006, um óptimo início de ano pra ti.
bye, bye.
 
Discordo em absoluto desta visão pessimista. Já olhaste para a evolução do nosso PIB per capita nos últimos trinta anos? Já reparaste na nossa taxa de crescimento neste período? Lembras-te do nível de vida dos portugueses quando tinhas 10 anos? Sabes qual era a taxa de alfebetização antes da Revolução? Compara-a com a que temos agora. Eu ainda me lembro que andar na escola cheio de furos no horário por não haver professores. E muitos dos que havia não terem qualificações. E lembro-me das condições da escolas nessa altura. Estarmos sempre a fazer comparações com os espanhóis parece-me doentio. A Espanha é um potência, é não sei quantas vezes maior do que nós, tem uma população tb n sei quantas vezes superior. Tem aquilo que nós não temos, mercado interno. Além de que tiveram a sorte de ter um ditador menos burro do que o nosso, que fez com a aposta na educação não teve praticamente de partir do zero nos anos 70. E fico por aqui porque senão nunca mais parava.
 
forçosamente ao longo da 2ª metade do séc. 20 Portugal teria de se desenvolver em alguns aspectos e sectores. Bastava seguir, e sem grandes esforços, na onda da Europa e do Mundo (isso aconteceu com uma razoável parte dos países do mundo, uns mais que outros, é verdade), e até como lembrou ontem nos "Prós e Contras" Pacheco Pereira o crescimento luso nos anos 80 e posteriores tem sido feito sobretudo à custa dos contribuintes alemães, franceses, ingleses e afins.
Diz-se que "quem é treinador do Benfica arrisca-se 1 dia ser Campeão" e em analogia afirmo eu que um "país que se situe na Europa Ocidental arrisca-se um dia a desenvolver-se".

A crise que aludi no meu post é a que afecta Portugal sobretudo desde o virar do milénio. Esta é a 2ª crise desde a entrada para a UE (a anterior ocorreu sensivelmente entre 1991 a 1995).
Só que esta nova crise parece não ter fim à vista, pois não é uma designada "crise passageira", é antes uma crise estrutural, e que até aqui tinha sido mitigada sobretudo pelos fundos da UE.
mas neste caso os € (e que têm decrescido) já não chegam, é preciso mudar profundamente as estruturas produtivas, organizacionais e até muitas das sociais e políticas do nosso país.
sobretudo esse corja de politiqueiros que por aí pulula...
 
visão pessimista? considero mais realista...
 
Esta discussão daria pano para mangas, mas aqui vão alguns apontamentos: 1. A crise estrutural não é só portuguesa, é europeia. É todo o modelo social que está em causa. Os países que se libertaram dele, como a Espanha e o Reino Unido, são os que têm melhor perfomances económicas (a esquerda portuguesa, sobretudo o bloquistas e comunistas, devia reflectir sobre isto); 2. Podes ter a certeza de que os contribuintes alemães, ingleses, etc, não ficaram de mão a abanar. Mas é óbvio que sem a União Europeia teríamos muito mais dificuldades. Mas há aqui um senão que é importante assinalar. Muitas das dificuldades por que Portugal passa tem que ver com a moeda única. Numa situação como esta teria sido muito mais fácil termos alguns instrumentos financeiros para superarmos a crise. Estarmos na Europa tem por isso alguns entraves. Fazemos parte de uma comunidade com uma moeda muito forte.
 
Palavras à parte, o que sei é que tenho «a crise», nâo à porta, mas «na pele». E para isso, nada como invocar o divino Espírito Santo. (tens sido uma fonte de inspiração para os meus posts!)
Abraço.
 
Postar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Blogarama - The Blogs Blogwise - blog directory
eXTReMe Tracker


View My Stats